25 de março de 1223
MORRE O REI D. AFONSO II

D. Afonso II governou por 12 anos, durante os quais a sua fragilidade física sempre se fez sentir. O rei sofria de lepra, de uma forma que o fazia inchar e engordar - assim as fontes chamam-lhe o gafo (sinónimo de leproso) e dando-lhe o cognome de O Gordo.
Perante a sucessão determinada por seu pai, dois dos seus irmãos saem de Portugal. Pedro Sanches, entra ao serviço de Afonso IV de Leão, sendo sempre adversário do irmão. O outro, Fernando, foi para a Flandres, onde vivia a sua tia Teresa ou Matilde.
Em Portugal ficavam as irmãs, em especial D. Teresa, D. Sancha e D. Mafalda, mais a muito jovem D. Branca. Foi com ela que Afonso II travou as suas maiores lutas por causa da herança paterna.
Essas lutas prendem-se com a própria noção de Estado que defendia cada parte, sendo a ideia de D. Afonso II muito avançada para a época.
Incapaz de ser o rei guerreiro, que caracterizava a monarquia, Afonso II vai governar em larga medida através da escrita, apoiando-se no Direito romano.
Afonso II rodeou-se de homens de leis a quem deu cargos cimeiros na sua administração, nomeadamente na chancelaria régia, ou seja, na instância encarregada de lavrar os documentos régios. À frente desta, manteve o mestre Julião Pais, que fora chanceler de Afonso Henriques e Sancho I.
Consideravam todos estes juristas que o rei era a principal autoridade de um reino, vindo essa sua autoridade directamente de Deus; no campo temporal reinava o soberano e no espiritual a igreja. Estas erram ideias novas, que justificavam uma política de centralização do poder régio que procurava cercear os direitos e os excessos dos senhores, tanto laicos como eclesiásticos.
Esta nova concessão do reino provocava um distúrbio entre aqueles que ainda pensavam no reino como um feudo senhorial, mas esta nova visão de Afonso II irá constituir um novo paradigma do reino, onde vai opor a sua reforma de centralização do poder régio e os bens que as irmãs tinham sobre vários domínios. Afonso II exigia a submissão à jurisdição régia das suas irmãs. Não foi só no plano judicial que o conflito decorreu, mas também em conflitos armados, em que as irmãs contavam com o apoio do rei de Leão (Afonso IX).
Os juízes pontifícios encarregados de executar o testamento de D. Sancho I excomungaram D. Afonso II e lançaram o interdito no seu reino, isto porque os juízes pontifícios não achavam que o testamento estava a ser aplicado na íntegra.
Depois de o rei enviar embaixadas à cúria romana, o papa Inocêncio III levanta a excomunhão e o interdito, e acaba por ser decidido que Afonso II detém a suprema autoridade sobre todos os territórios do seu reino, devendo os domínios das infantas ficar submetidos à sua jurisdição.
Em simultâneo, o rei e os seus colaboradores mais próximos lançavam uma série de medidas de centralização do poder que, como disse já, eram muito precoces para a época.
As cortes: as primeiras reuniões dos bispos e dos mais importantes fidalgos que rodeavam o rei.
Nessas cortes foram promulgadas as primeiras leis gerais do reino, decidindo-se que todos os que nele morassem seriam julgados pelo rei. A capacidade legislativa do monarca começa a surgir com estas iniciativas.
Estas medidas criavam conflito com os senhorios laicos e eclesiásticos, que lhe retira poder sobre os seus feudos. Uma das medidas mais contestadas foi:
A primeira lei de desamortização: impedia os mosteiros e ordens religiosas de adquirir bens fundiários que, indo parar às suas mãos, sairiam da alçada régia no que toca ao pagamento de impostos.
Outra medida de grande importância e causa de grande descontentamento senhorial:
As inquirições (1220): consistiam em inquéritos, levados a cabo por oficiais régios, nomeadamente juízes, que recolhiam depoimentos dos habitantes dos vários locais - normalmente as pessoas mais importantes, os chamados "homens bons". - o objetivo era saber que direitos régios estavam a ser sonegados, de modo a poder ser reposta a cobrança e a estabelecer com clareza a quem pertenciam os pagamentos devidos pelos habitantes.
As inquirições incidiram sobre a região a norte do rio Douro, onde havia mais abusos por parte dos senhores, que iam alargando os seus domínios à custa dos direitos régios.
Também com Afonso II surgiu o primeiro livro de registo da chancelaria régia e os tabeliães. Os tabeliães eram profissionais da escrita, os antepassados dos atuais notários.
No caso da reconquista, como já referimos Afonso II tinha grandes limitações físicas o que impedia de estar presente no campo de batalha. Mas a política expansionista continuou no seu reinado, graças às ordens militares, a quem concedeu importantes território na zona fronteiriça.
Uma das conquistas mais importantes do reinado de D. Afonso II foi a de Alcácer do Sal (1217), ponto estratégico importante, de onde vinham numerosas incursões para a região de Lisboa. Com ajuda dos cruzados que se dirigiam para a Terra Santa, além da participação muito importantes das ordens militares. Alcácer foi entregue aos cavaleiros da Ordem de Santiago.
D. Afonso II morre a 25 de março de 1223, e o seu sucessor e filho, D. Sancho II vai ocupar o trono.
O testamento de Afonso II, de 1214, é o primeiro documento integralmente escrito em português que conhecemos até hoje. Ainda hoje, o diário histórico irá apresentar a transcrição completa deste testamento, por isso fiquem atentos !
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